As razões concretas pelas quais foi cancelado o Rali*, talvez sejam ligeiramente diferentes das que foram anunciadas pelos organizadores. Com efeito, os governos do « Sul » que iriam ser cenário do rali, sabem perfeitamente que estão numa situação muito instável e que nem a brutal repressão pode já esmorecer as dissidências. A luta operária destas zonas é ignorada pela média, mas existe e desenvolve-se : o operariado e campesinato é super explorado. Não tem sequer uma « solidariedade » nominal dos sindicatos burocráticos do Norte, como se viu na reunião à porta cerrada realizada em finais de Outubro em Lisboa, na qual apenas houve uma preocupação de colagem às teses neoliberais dos líderes políticos da EU.

As razões concretas pelas quais foi cancelado o Rali*, talvez sejam ligeiramente diferentes das que foram anunciadas pelos organizadores.
Com efeito, os governos do « Sul » que iriam ser cenário do rali, sabem perfeitamente que estão numa situação muito instável e que nem a brutal repressão pode já esmorecer as dissidências.
A luta operária destas zonas é ignorada pela média, mas existe e desenvolve-se : o operariado e campesinato é super explorado. Não tem sequer uma « solidariedade » nominal dos sindicatos burocráticos do Norte, como se viu na reunião à porta cerrada realizada em finais de Outubro em Lisboa, na qual apenas houve uma preocupação de colagem às teses neoliberais dos líderes políticos da EU.

Na Europa, só alguns sindicatos alternativos e anarco-sindicalistas (por exemplo, a CGT de Espanha ou a CNT- França) ou redes de solidariedade com imigrantes, têm levado a cabo acções concretas de apoio às lutas do Magreb, contra a repressão sobre os militantes políticos e sindicais.

O facto de ter havido ataques e mortes na Mauritânia está correlacionado com a situação muito instável no Magreb, da qual os salafitas se têm aproveitado. Quer na Argélia, em Marrocos ou na Mauritânia, a influência desta versão fundamentalista do islamismo tem progredido, pois os governos desses países são odiados, como castas governantes, corruptas, mantendo uma ordem social medieval para benefício das corporações europeias e norte-americanas, que aí têm instalado as fábricas (Nike, Adidas, Coca-Cola, etc., etc. …)

O « ocidente » hipócrita e egoísta, queria continuar a percorrer esses países, a pretexto de rali, com a arrogante e despreocupada irresponsabilidade dos « senhores ».
Todos os anos, havia um certo número de acidentes mortais, envolvendo público assistente, sobretudo crianças.
Mas isso não demovia os organizadores, nem escandalizava, por aí além, os aficionados deste « desporto ».
Nesta questão do « Dakar », vejo todo um símbolo da época que estamos a atravessar.
A situação no « Sul » chegou a um ponto de não-retorno, onde mais e mais pessoas se negam a creditar qualquer « superioridade » à « civilização » ocidental.
Com efeito, o que é o « Dakar », senão a afirmação arrogante de superioridade tecnológica, com desprezo pelos seres humanos do subdesenvolvimento, « promovido » pelas corporações e governos europeus ?

Há que boicotar activamente todas as manifestações de « desporto automóvel » pois, além de autênticos atentados ecológicos, promovem uma série de valores e comportamentos totalmente negativos. O « Lisboa – Dakar » resume tudo o que de negativo se pode apontar a eventos « desportivos » desta natureza.

Manuel Baptista
(« Luta Social », www.luta-social.org)


*Nota : O « Paris-Dakar », passou a « Lisboa-Dakar ». Em França, houve durante anos, uma campanha desenvolvida por múltiplos grupos « altermundistas » : http://www.monde-solidaire.org/spip/article.php3 ?id_article=1055


Fuente: Manuel Baptista - Colectivo Luta Social (Portugal)